sexta-feira, 17 de agosto de 2012


A PIZZA DA NÃO-MORTE

       Terça-feira passada, fui ao Caxias Shopping (detesto esse nome!), onde comi, sozinho, uma pizza de mozarela, que era grande — grande o bastante para alimentar duas ou três pessoas. Lembrei-me das artérias antes da comilança, mas a fome era mais forte.
       Depois de comer, pensei: “Que feito! Fui capaz de comer uma pizza grande sozinho!”  Tomei-me de orgulho. Mas, em seguida, achei que eu poderia ter morrido de indigestão. Eu desafiara a morte! Mais um motivo de orgulho! Saí da praça de alimentação alegre, rindo como um bêbado. Morto por uma pizza?! (Leia-se: Morto por causa de uma pizza?!) Seria uma morte hilária. Algum jornal publicaria o fato? Imagine-se a seguinte manchete: “Morre um jovem depois de comer pizza de X gramas”. (Aqui uma informação que não dei linhas acima por causa do fluxo da narrativa, que é mais psicológico do que cronológico: Antes de sair da praça de alimentação, perguntei à garçonete quantos gramas tinha a pizza. Ela não sabia (e ainda não deve saber); e eu também não sei.)
       Pensei, enquanto caminhava pelo shopping para ajudar a digestão, o quão mesquinha fora a atitude. Acontece que a felicidade humana é fruto da mesquinharia, e eu, mísero e mesquinho, não fujo à regra. É como diz Brás Cubas: Se apertarmos as botas, e passarmos muito tempo calçando-as, bastará descalçá-las para que venha a felicidade. Em vez de apertar as botas, comi uma pizza.
       Eis aí, leitor, um episódio “edificante” (as aspas dão tom irônico à palavra). (Por que faço questão de dizer que as aspas dão tom irônico? Porque as pessoas não sabem: elas não estudam, de modo que é preciso explicar tudo, ou, então, apenas certas coisas.) Naturalmente, nenhum dos macacos que andam e falam poderiam passar por uma experiência “filosófica” tão “sublime”: estavam ocupados com gastar dinheiro.
       — Por que não convidou um amigo? (perguntará o leitor).
       — Porque, como ficou dito, sou mesquinho. Além disso, a ideia de comer a pizza surgiu repentinamente e apoderou-se de mim. No zoológico (leia-se: no shopping) eu estava sozinho: eu havia ido lá por ir. E não tenho telefone portátil.
       — Eu pesaria alguns quilos a mais se fizesse o que fez (dirá a leitora).
       — Entenda uma coisa, minha cara: quilograma não é peso: quilograma é massa. Mas, não, não engordei: continuo com pouco mais de 62 quilogramas, e meu corpo continua com a magreza de dar inveja às mulheres.
       Da próxima vez, comerei um bolo.

                                                               (Duque de Caxias, 22 de junho de 2012.)


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