sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A SITUAÇÃO POLÍTICA DE DUQUE DE CAXIAS

(Crônica-historieta.)

(Texto inspirado numa reconstituição de o Auto da Feira, de Gil Vicente.)

       Estava um vendedor de mentiras numa feira de Duque de Caxias, quando chegou o Zé-Povinho.
       — Mentiras, mentiras; quem quer mentiras? (gritava o vendedor).  Mentiras para todas as ocasiões: para enganar a mulher, para enganar o marido, para os eventos sociais, quem as quer?
       — Tem cesta de comida? (perguntou o Zé-Povinho).
       — Não (respondeu o vendedor): tenho mentiras.  Quer comprar uma?
       — Não: quero cesta de comida; mas, se você não tem, digo que um vale-transporte já é o bastante.
       — Também não tenho isso (disse o vendedor, já meio irritado); tenho mentiras para todas as ocasiões.  Mentiras para não ir ao trabalho é o que não falta: dor de dente, dor de dedo, dor na coluna, tudo isso com atestado médico.
       — Tem cachaça?
       — Não!  Tenho mentiras.  Posso vender-lhe um livro cheio delas.
       — Um livro?  Não quero isso, não!
       — Escute (disse o vendedor): se não quer comprar mentiras, vá rodando.
       — Mas você não tem nem um cigarro para eu fumar ou um disco de samba que eu possa ouvir para brincar no Carnaval?  Eu gostaria muito de...
       — Olhe quem vem lá!  (interrompeu o vendedor).  Veja se não são meus mais prezados fregueses: o prefeito Chito, Uósto e seus aliados!
       Obsequioso, o vendedor logo se pôs a cumprimentar os fregueses, que escorraçaram o Zé-Povinho a pontapés na região glútea.
       Após uma calorosa conversa, Chito e os outros compraram muitas mentiras; depois passaram pelo Zé-Povinho, a quem se dirigiram nos termos seguintes:
       — Tome, desgraçado (e jogaram várias cestas de comida).  E lembre-se (mostraram as mentiras que compraram): Deve votar, porque vamos investir em Saúde e em Educação, construir estradas, diminuir o preço da passagem de ônibus...
       Que fez o Zé-Povinho?  Lambeu-lhes as botas.
 
                                                                            (Duque de Caxias, fevereiro de 2012.)


                                                                 




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