A SITUAÇÃO POLÍTICA DE DUQUE DE CAXIAS
(Crônica-historieta.)
(Texto inspirado numa reconstituição de o Auto da Feira, de Gil Vicente.)
(Texto inspirado numa reconstituição de o Auto da Feira, de Gil Vicente.)
Estava um vendedor de mentiras numa feira de Duque de Caxias, quando
chegou o Zé-Povinho.
— Mentiras, mentiras; quem quer mentiras? (gritava o vendedor). Mentiras para todas as ocasiões: para enganar
a mulher, para enganar o marido, para os eventos sociais, quem as quer?
— Tem cesta de comida? (perguntou o Zé-Povinho).
— Não (respondeu o vendedor): tenho mentiras. Quer comprar uma?
— Não: quero cesta de comida; mas, se você não tem, digo que um vale-transporte
já é o bastante.
— Também não tenho isso (disse o vendedor, já meio irritado); tenho
mentiras para todas as ocasiões.
Mentiras para não ir ao trabalho é o que não falta: dor de dente, dor de
dedo, dor na coluna, tudo isso com atestado médico.
— Tem cachaça?
— Não! Tenho mentiras. Posso vender-lhe um livro cheio delas.
— Um livro? Não quero isso, não!
— Escute (disse o vendedor): se não quer comprar mentiras, vá rodando.
— Mas você não tem nem um cigarro para eu fumar ou um disco de samba que
eu possa ouvir para brincar no Carnaval?
Eu gostaria muito de...
— Olhe quem vem lá! (interrompeu
o vendedor). Veja se não são meus mais
prezados fregueses: o prefeito Chito, Uósto e seus aliados!
Obsequioso, o vendedor logo se pôs a cumprimentar os fregueses, que
escorraçaram o Zé-Povinho a pontapés na região glútea.
Após uma calorosa conversa, Chito e os outros compraram muitas mentiras;
depois passaram pelo Zé-Povinho, a quem se dirigiram nos termos seguintes:
— Tome, desgraçado (e jogaram várias cestas de comida). E lembre-se (mostraram as mentiras que
compraram): Deve votar, porque vamos investir em Saúde e em Educação, construir
estradas, diminuir o preço da passagem de ônibus...
Que fez o Zé-Povinho? Lambeu-lhes
as botas.
(Duque de Caxias, fevereiro de
2012.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário