sexta-feira, 6 de março de 2015

IGREJAS E VIRGINDADE

       
IGREJAS E VIRGINDADE

       “Nenhuma liberdade estará jamais segura, em qualquer parte, enquanto uma igreja, um partido, ou um grupo de cidadãos hipersensíveis, possa ter o direito de governar a vida privada de alguém.”  (Jorge de Sena.)
 

       As igrejas evangélicas, pelo que parece, preocupam-se muito com a influência que emissoras de televisão e outras fontes de ideias não ligadas ao protestantismo exercem sobre os jovens, cuja “preciosa” flor da virgindade, em sua opinião, tem de ser preservada até ao casamento.  É cruel, coercitivo, violento, desnecessário e até incoerente esse controle do corpo dos jovens, que, quanto mais são orientados a não cair no “pecado” de fazer sexo antes do casamento, mais pensam nele.
       A vontade de preservar a virgindade deveria ser forjada de dentro para fora, e não de fora para dentro.  Os resultados da orientação que a igreja dá aos adolescentes evangélicos (orientação essa que não está de acordo com os costumes atuais nem com a natureza, tão mencionada quando se condena o homossexualismo) podem ser dois: (1) a intensificação ou crescimento do desejo de fazer o que se proíbe e (2) o casamento precipitado, feito só para legitimar as práticas sexuais.
       De qualquer casamento ruim o divórcio pode ser uma consequência inevitável.  Assim, o indivíduo que se casa apenas para copular com a noiva, que fez a mesma coisa, divorcia-se quando percebe a bobagem que fez.  O divórcio, aliás, cresceu muito (as estatísticas e a realidade de muitos não mentem quanto a isso).  Em nome da instituição do casamento vale a pena preservar algo que existe para ser desfeito?
       Outro fator que dá margem a que se questione a luta pela virgindade é a conduta passada de pastores e outros evangélicos, dos quais muitos já praticaram o “mal” de copular antes do casamento, “mal” esse de que querem salvar os jovens, que sofrem, dentro da própria comunidade, a pressão dos meios familiar e social, em que escutam que homem tem de arranjar namorada, sob o risco de serem tachados de homossexuais no caso de não arranjarem uma.  Dupla moral: Se arranjam namorada, não podem pecar (leia-se: não podem exercer as funções sexuais inerentes ao homem); se não arranjam, podem ser vistos como gays e despertar o “radar” de mães, pais e pastores.  Maior incoerência que essa é a conduta de pastores que pregam a preservação da virgindade na igreja e praticam o coito com meretrizes.
       É evidente que não se vai mudar a doutrina das igrejas evangélicas.  Contudo, diante do exposto é de se esperar que ao menos mudem as estratégias com que abordam a sexualidade.  Para isso, precisarão se preocupar menos com as influências dos meios de comunicação, que apresentam alguns adolescentes ficcionais privilegiados, como os de Malhação, e outros falsos, como os da Nickelodeon.  Em outras palavras: Terão de notar o mal que há em si antes de olhar para o mal que há nos outros.  A melhor forma de afastar o adolescente do “pecado” é fazer com que ele pense menos em sexo e casamento e mais em esportes, atividades em que moças e rapazes podem gastar boa parte da energia sexual que seria usada na cópula.  Esse raciocínio pode ser a motivação da contratação de professores de Educação Física por parte de igrejas, nas épocas de excursões e acampamentos por elas realizados com o propósito de criar ou reforçar a liga de seus rebanhos.  Se os templos não vão mudar de ideia, que pelo menos mudem a prática com que a defendem.
 
       (Duque de Caxias, em 8/1/2015, no Facebook.  Últimas alterações feitas em Teresópolis, em 4/12/2015.)
 

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