IGREJAS E VIRGINDADE
“Nenhuma liberdade estará
jamais segura, em qualquer parte, enquanto uma igreja, um partido, ou um grupo
de cidadãos hipersensíveis, possa ter o direito de governar a vida privada de
alguém.” (Jorge de Sena.)
As igrejas evangélicas, pelo que parece, preocupam-se muito com a
influência que emissoras de televisão e outras fontes de ideias não ligadas ao
protestantismo exercem sobre os jovens, cuja “preciosa” flor da virgindade, em
sua opinião, tem de ser preservada até ao casamento. É cruel, coercitivo,
violento, desnecessário e até incoerente esse controle do corpo dos jovens,
que, quanto mais são orientados a não cair no “pecado” de fazer sexo antes do
casamento, mais pensam nele.
A vontade de preservar a virgindade deveria ser forjada de dentro
para fora, e não de fora para dentro. Os resultados da orientação que a
igreja dá aos adolescentes evangélicos (orientação essa que não está de acordo
com os costumes atuais nem com a natureza, tão mencionada quando se condena o
homossexualismo) podem ser dois: (1) a intensificação ou crescimento do desejo
de fazer o que se proíbe e (2) o casamento precipitado, feito só para legitimar
as práticas sexuais.
De qualquer casamento ruim o divórcio pode ser uma consequência
inevitável. Assim, o indivíduo que se casa apenas para copular com a
noiva, que fez a mesma coisa, divorcia-se quando percebe a bobagem que fez.
O divórcio, aliás, cresceu muito (as estatísticas e a realidade de muitos
não mentem quanto a isso). Em nome da
instituição do casamento vale a pena preservar algo que existe para ser
desfeito?
Outro fator que dá margem a que se questione a luta pela
virgindade é a conduta passada de pastores e outros evangélicos, dos quais
muitos já praticaram o “mal” de copular antes do casamento, “mal” esse de que
querem salvar os jovens, que sofrem, dentro da própria comunidade, a pressão
dos meios familiar e social, em que escutam que homem tem de arranjar namorada,
sob o risco de serem tachados de homossexuais no caso de não arranjarem uma.
Dupla moral: Se arranjam namorada, não podem pecar (leia-se: não podem
exercer as funções sexuais inerentes ao homem); se não arranjam, podem ser vistos
como gays e despertar o “radar” de mães, pais e pastores. Maior
incoerência que essa é a conduta de pastores que pregam a preservação da
virgindade na igreja e praticam o coito com meretrizes.
É evidente que não se vai mudar a doutrina das igrejas
evangélicas. Contudo, diante do exposto é de se esperar que ao menos
mudem as estratégias com que abordam a sexualidade. Para isso, precisarão
se preocupar menos com as influências dos meios de comunicação, que apresentam
alguns adolescentes ficcionais privilegiados, como os de Malhação, e outros
falsos, como os da Nickelodeon. Em outras palavras: Terão de notar o mal
que há em si antes de olhar para o mal que há nos outros. A melhor forma
de afastar o adolescente do “pecado” é fazer com que ele pense menos em sexo e
casamento e mais em esportes, atividades em que moças e rapazes podem gastar
boa parte da energia sexual que seria usada na cópula. Esse raciocínio
pode ser a motivação da contratação de professores de Educação Física por parte
de igrejas, nas épocas de excursões e acampamentos por elas realizados com o
propósito de criar ou reforçar a liga de seus rebanhos.
Se os templos não vão mudar de ideia, que pelo menos mudem a prática com
que a defendem.
(Duque de Caxias, em 8/1/2015, no
Facebook. Últimas alterações feitas em
Teresópolis, em 4/12/2015.)
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